Religião,
relação íntima do Homem com o Divino, constitui domínio de difícil penetração.
Haverá construções destinadas ao culto; esculturas a representar divindades;
objectos rituais… São, todavia, escassas epígrafes o documento primordial para
se saber de divindades veneradas; limitado é, pois, o que se conhece do panteão
romano
Muitas
epígrafes poderão vir a encontrar-se, por exemplo, nas paredes das casas de
Condeixa-a-Velha. É que são árulas, de contexto privado, o que se tem – e é, de
facto, um conjunto singular! Faltam-nos, porém, os textos oficiais, exarados,
verosimilmente, em monumentos maiores que na muralha e nas paredes das casas da
aldeia tiveram, seguramente, utilização privilegiada, esquecidos os homens do
significado dos estranhos dizeres!
Notável, porém, esse
conjunto de pequenos altares domésticos, em que, a par do deus maior, Júpiter
Óptimo Máximo, se homenageiam divindades que mais se prendem com devoções
particulares: Minerva, os Lares sob diversas invocações, Liber Pater, Aqua (!)… E até as dedicatórias ao Génio de Conimbriga e à cidade em si (considerada como algo de sagrado,
porque tem Lares a protegê-la), parecem ter resultado mais de um acto pessoal
sem envolvimento de hierarquias.
Propôs Robert Étienne
que, no altar dedicado por um indígena – Tangino, filho de Tongina – a I. O. M.
C., o C final, em vez de Conservatori
como noutros locais acontece, significasse C(onimbrigensi)
ou C(onimbrigae). O deus maior dos Romanos, Júpiter
Óptimo Máximo, assumiria, desta sorte, roupagem local, à medida dos
Conimbrigenses… E tal não seria de admirar, pois que temos também dedicatória Flaviae Conimbrigae et Laribus eius, «à
Flávia Conímbriga e aos seus Lares». O
culto da ambiguidade era aliciante para o Romano, como o é, nos nossos dias,
para os publicitários… Assim, em sigla, terá sido deixado de propósito: cada
qual entenda como quiser…
Temos, porém, uns Lares
das Águas (Lares Aquites), estranha
designação que acentua esse carácter autóctone que as divindades depressa por
Terras de Sicó assumiram e reivindicaram. E davam-se-lhes graças por, vinda de
Alcabideque, água, de facto, não faltava! Aliás, decerto também devido a esse
acentuado localismo, um dos pequenos grupos étnicos, os atrás citados Lubancos,
quis ter Lares próprios…
Lugar à parte pode
merecer uma dessas árulas mais mimosas: a que Valério Dafino, porventura um
liberto, dedica
Ocultas (por enquanto,
creio) a nossos olhos as solenes dedicatórias maiores, apetece-nos, pois, ficar
assim aconchegados a númenes protectores, muito nossos, desprovidos de galas
sumptuárias!... Por Terras de Sicó!
José
d’Encarnação
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