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segunda-feira, 15 de novembro de 2021

A SITUAÇÃO DOS MUSEUS E CENTROS DE CIÊNCIA DE PORTUGAL

 

António dos Santos Queirós
Professor e Investigador, CFUL. Universidade de Lisboa

E a sua missão social, na educação e na nova economia

Conferência  II Encontro da Rede Património Ciência e Saúde

Em finais de 2019 a direção da MC2P, dando continuidade ao ciclo de reuniões alargadas dos seus órgãos sociais, debateu a situação dos museus e centros de ciência de Portugal.

Os participantes constataram a persistência de graves problemas, quer ao nível da tutela institucional e dos quadros de pessoal, quer ao nível da missão dos museus e centros de ciência, concluindo:

O exercício da tutela dos museus e dos museus e centros de ciência, em particular, pressupõe que as administrações reconheçam plenamente a  sua função social, como estruturas orgânicas do Ensino e da Educação Não-Formal.

Mas também como estruturas orgânicas do Turismo Cultural, o paradigma turístico em ascensão e já hegemónico.

A metodologia própria das práticas educativas do ensino e da educação não formal _observação, participação, experimentação e interatividade, embora implicando esforço e aquisição de  conhecimentos científicos, como nas escolas que estruturam a educação formal, apela particularmente para o despertar da curiosidade científica, cria o gosto pelo estudo experimental e faculta a alegria e a recompensa moral da descoberta. A educação não formal é complementar do sistema de educação formal e deve ser desenvolvida em articulação permanente com  a educação formal e a educação  informal, ao longo da vida, como recomendam a UNESCO e o Conselho da Europa.

Consequentemente, os quadros dos museus devem ser plenamente preenchidos com técnicos qualificados e carreiras institucionalizadas (preceito igualmente válido para os seus diretores) _ sem prejuízo da mobilidade em contexto de ascensão profissional, que permitam conservar e passar o testemunho da sua cultura museal, herdada dos primeiros diretores e equipas fundadoras.

Mas igualmente necessitam  adaptar a sua estrutura funcional à comunicação moderna da sua museografia, competência que não é do domínio do marketing, mas da cultura e da cultura (e literacia) científicas, das ciências da educação, da economia do património, da filosofia ambiental e das suas éticas. Cabem às ferramentas de marketing potenciar a comunicação em ciência, intrinsecamente cultural.

A Relação Museu-Escola

Sem negar a relativa importância dos aspetos lúdicos na educação científica, creio que uma aprendizagem sólida, que perdure, exige sempre, da parte de quem aprende, que se faça algum esforço de compreensão e retenção. Assim, em minha opinião, não se trata de afirmar que tudo pode ser apreendido sem esforço, mas de convencer as crianças e os jovens que vale a pena dar esse esforço pelas recompensas intelectuais e emocionais que isso lhes traz. É qualquer coisa de semelhante ao que se passa com a prática desportiva: não se obtêm bons resultados sem despender esforço; apenas pelo interesse que se tem por ela se está disposto a fazê-lo. Penso que o papel essencial dos centros de ciência perante a juventude não é dar-lhe a ilusão que ali se aprende ciência sem esforço, mas comunicar-lhe o interesse para que vença os bloqueios que sente na aprendizagem de certas matérias científicas e se disponha a estudá-las alegremente e sem o sentimento de hostilidade que, a esse respeito, até aí a dominava.(FBG)

As 7 cadeias de valor da economia do património

A construção de uma relação cooperativa e complementar com a escola, e os seus docentes, constitui também a melhor alavanca para criar novos públicos e fomentar a visita organizada aos museus e centros de ciência, atividade geradora das mais valias que   criam valor para a economia do património (e, especialmente. do turismo).

Mas não são os museus, monumentos e afins, que recolhem diretamente as principais mais-valias, mas sim as 7 cadeias de valor da economia do turismo:  alojamento,  restauração,  lojas e merchandising, transportes, guionamento, animação e  agenciamento.

No entanto, esse valor é gerado pela capacidade que as instituições museais possuem de atração de viajantes, internacionais, os de maior valor acrescentado  e  nacionais: Comparemos números, de antes da pandemia. Total de espetadores em todos os campos de futebol do país, no ano de 2018/19_ 4,3 milhões.    Com, 15,5 Milhões de visitantes nos Museus, + de 12 Milhões nos Monumentos; ainda 9 Milhões nas exposições das galerias de arte, + 6 Milhões nos espetáculos culturais. (Fontes: FPF, INE). Comparemos os 500 mil euros anuais investidos pelo estado no orçamento do Museu de Conimbriga, com os 8 milhões de euros que os seus turistas e excursionistas gastam nas 7 cadeias de valor para o visitar!

Tais externalidades, dos museus, monumentos e afins, traduzem-se em valor acrescentado, incompreendido pela maioria das entidades tutelares, que não o incluem na contabilidade do turismo, iludidas e iludindo-nos com as aparências  e através da comunicação social.

O Cefop.mc2p

Neste contexto, o Centro de Formação de Professores da MC2P, foi criado para  a formação contínua de docentes e acreditado pelo Conselho Científico Pedagógico de Formação Contínua, entidade do Ministério da Educação,  construindo já um vasto programa  que certifica os professores nos domínios pedagógico e científico para a progressão na carreira, com um dos sus polos nos museus e centros de ciência nacionais e  extensão transfronteiriça. A parceria com o Cefop.Conimbriga, permite-lhe alargar essa certificação a todos os domínios profissionais.

A MC2P conclama as instituições museais de ciência em Portugal a prosseguir o seu trabalho de cooperação e internacionalização, para promover o potencial educativo dos museus e centros de ciência, mas também o diálogo intercultural e a coesão social, que permitiu criar a sua Rede Nacional, o Roteiro dos Museus e Centros de Ciência, o Encontro Nacional para a Cultura Científica e o Contributo para o Debate Nacional pela Educação, promovido pela Assembleia da República.

Ou seja, constituir-se como interlocutor autónomo preferencial no âmbito da literacia científica, a nível nacional e das instituições de tutela e, como  ponto focal cívico e cultural do país a nível internacional.

Faço votos que nos voltemos a reunir no III Encontro, com saúde.

Lisboa, 21.10.2021

António dos Santos Queirós- Presidente da Direção da mc2p, em representação do Cefop.Conimbriga


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