António dos Santos Queirós
Professor e Investigador
Diagnóstico
Analisemos a
situação específica do mundo rural português, depreciado e deformado pelo
conceito incaraterístico de “interior”, respondendo à pergunta: O que
caracteriza hoje o desenvolvimento desigual da economia nos campos de Portugal?
_ Um setor empresarial
na agricultura, agropecuária e exploração florestal industrializados, apoiado
financeiramente pela PAC_ Política Agrícola Comum e por outros fundos comunitários
e orientado para a exportação.
_ Um setor
cooperativo e de agricultura familiar empobrecido e em crise.
Abordemos primeiro a situação deste Portugal rural.
O sector primário,
agricultura, silvicultura e pescas, segundo as estatísticas do INE (2014),
representa apenas 2,2% do total do Valor Acrescentado Bruto e ainda um
significativo 10,2% do emprego, contra 21,2% do VAB do sector secundário (indústria,
construção, energia e água) com 23,7 do emprego e 76,6% do sector terciário de
serviços, com 66,1% de emprego. Mas produz serviços de alto valor ambiental e
económico que a contabilidade tradicional do estado e das empresas não
expressa.
Portugal conta com
23% do seu território na Rede Natura 2000 (o conjunto dos biótopos
indispensáveis à conservação da biodiversidade). E 37 % da área agrícola e
florestal são de alto Valor Ambiental: combate à desertificação (ao avanço do
deserto africano para o Sul europeu mediterrânico), fornecimento de água em
quantidade e qualidade, redução do risco de cheias e de incêndios, um mosaico
de paisagens culturais, ricas em novos biótopos e potenciadoras do novo
paradigma de turismo, o turismo ambiental.
Acresce que uma produção
agrícola mais sustentável é especialmente necessária nos países do sul da
Europa sujeitos cada vez mais aos prejuízos económicos, sociais e ambientais
dos fogos florestais.
A nova revisão da
PAC não contém o pagamento destes serviços e o reforço da multifuncionalidade,
de modo a suster o ermamento dos campos e fomentar o seu repovoamento, articulando
a visão técnico-científica integrada do desenvolvimento rural numa política
democrática de transição ecológica da economia
Mas porquê afirmar a
necessidade de uma política democrática e progressista? A política dos governos
anteriores tem uma pesada responsabilidade no ermamento e abandono do mundo
rural, criando um grave problema económico, ambiental, de coesão nacional e segurança.
A oligarquia que se
instalou no estado democrático não apoiou sobretudo o trabalho e a função
social, económica e ambiental, dos pequenos e médios camponeses.
Canalizou o
investimento comunitário indispensável para desenvolver a agricultura e a
indústria para o complexo imobiliárias-obras públicas, reservando para aquelas
duas atividades apenas 5% de todos os fundos estruturais. Continuou assim a
desvalorização do capital terra.
Desmantelou as
estruturas nacionais e regionais de investigação agrária (secção de genética da
Estação Agronómica Nacional, Estação Vitivinícola do Dão) extensão rural e
apoio técnico…Desmantelou a Casa do Douro e liberalizou o plantio da vinha,
retirando-lhe o poder de controlar o cadastro e o benefício, conquistados e
mantidos desde 1936 pelos seus viticultores, em favor do IVDP_ Instituto dos
Vinhos do Douro e Porto. A Casa do Douro, privada de receitas, obrigada que
estava a vender apenas aos comerciantes, ficou à mercê de quatro ou cinco
grupos económicos que, desde 2001 dizem não precisar de lhe comprar vinho,
acumulando uma dívida de 110 milhões de euros ao estado e 20 milhões à banca,
até que foi recentemente extinta. E o governo deixou cair os Institutos de
Desenvolvimentos Agrário Regional (IDARC, IDARN), mesmo quando representavam
exemplos positivos de cooperação entre a universidade, as associações e a
administração pública.
Numa primeira fase,
descentralizou os estudos agrários politécnicos, nas capitais regionais, mas
deixou-os entrar em crise com o advento do dumping
comercial e do desemprego em quase todos os sectores produtivos do mundo rural
e o desmantelamento dos serviços técnicos e de extensão rural.
Em paralelo e depois
da descentralização dos serviços de educação, saúde, assistência social e
justiça, assiste-se progressivamente à sua retirada do espaço das aldeias e
mesmo das vilas.
A criação de cidades
médias desenvolvidas, não resultou, como defendiam algumas teorias
desenvolvimentistas, na criação de polos de desenvolvimento do seu território
rural, mas em autênticos “buracos-negros” que progressivamente esvaziaram
aldeias e mesmo concelhos vizinhos.
O balanço do poder
autárquico é contraditório: depois da fase de construção das redes básicas de
serviço público e da expansão e qualificação do emprego público, os municípios,
geridas maioritariamente pelos mesmos partidos do governo central, orientaram muitas
vezes os seus orçamentos, os fundos regionais e os programas comunitários, não
para o desenvolvimento sustentável, mas para alargar a sua base social de
apoio: distribuição do emprego, das empreitadas e das candidaturas das CCDR.
Mas há também no
mundo rural iniciativas e uma intervenção político-social, sobretudo nos
domínios da saúde, da assistência social e da educação que foram protagonizados
por homens e mulheres dos correntes social-democratas e democrata cristãos, de
carácter progressista e com grande impacto popular. Contudo as personalidades
dessas correntes não têm hoje expressão política nos seus partidos de origem,
esvaziados que foram dos seus ideais.
Em paralelo, as
diversas Igrejas e instituições de solidariedade social _IPSS, vêm assumindo um
papel social crescente, atendendo às necessidades de apoio material e
espiritual onde falha o estado democrático e a organização comunitária,
assumindo em todos os escalões da hierarquia, uma postura crítica face à deriva
neoliberal e autoritária.
Os partidos de
esquerda subalternizaram durante muito tempo o trabalho autárquico e em geral o
trabalho político no campo, particularmente nas aldeias, por preconceito
ideológico e por desconhecimento da sua realidade económica, política e
cultural. E as autarquias que eram uma referência da política autárquica de
esquerda têm perdido terreno, sem que conheça uma avaliação política desse
retrocesso, de interesse geral para todos os partidos progressistas.
Um número
significativo de professores, intelectuais e artistas optou por viver nas
regiões rurais, dando um contributo
decisivo para o progresso na instrução e na cultura das suas comunidades.
Constituem
principais ameaças à sobrevivência da classe dos pequenos produtores e
camponeses a política comunitária que pôs fim às quotas leiteiras (54.000
produtores desapareceram na UE nos últimos anos). A redução progressiva e mesmo a ameaça de fim
do “benefício” no Douro” ( quota limitada que permite a adição de
aguardente vínica ao mosto, produzindo então o vinho fino, vulgarizado com a
designação de vinho do Porto), o que equivale a desregular completamente a
produção de vinho do Porto, reduzindo drasticamente o rendimento dos pequenos
produtores que sobrevivem graças à venda as uvas ou do vinho beneficiado.
Com o novo regime de
arborização e rearborização, na verdade uma lei da eucaliptização (Decreto-lei
96/2013), conjugada com a privatização dos baldios em favor dos municípios e
destes para o mercado, através da alteração da Lei dos Baldios (Lei 72/2014) e a
sua incorporação na Bolsa de Terras, que abrange mais de 400.000 ha, aumentam
os riscos de destruição das paisagens culturais, pelo abandono, pelo fogo e
pelas plantações monoespecíficas de pinhais, para fazer paletes e eucaliptais,
para pasta de papel, destruindo mais
solos agrícolas.
A Portaria que
define as novas regras fiscais para os pequenos agricultores está a afastar do
mercado os pequenos produtores envelhecidos.
Analisemos agora o setor empresarial mais desenvolvido
e caracterizemos o seu quadro geral:
A maior parte da população empregada na atividade económica da
agricultura, produção animal, caça e silvicultura, trabalhava, segundo o último
senso de 2011 por conta de outrem, (51,9%), seguindo-se os trabalhadores por
conta própria (23,1%) e os empregadores (18,1%).
Em 2013, Portugal
produziu 72,9% da quantidade de carne necessária para satisfazer as
necessidades. Mas o autoaprovisionamento dos cereais representa apenas 22,0%.
Portugal também não é autossuficiente em frutos, importando, em média, cerca de
30% do que consome e nas oleaginosas. Registam-se níveis próximos da
autossuficiência para o azeite, ovos, hortícolas e frutos frescos. A produção
de arroz aproxima-se da autossuficiência, com 92,5% e o vinho ultrapassa-a com
138,7%. A autossuficiência para os produtos da pesca situa-se na ordem dos 82%,
mas verifica-se que nos produtos da indústria alimentar da pesca, nomeadamente
congelados, secos e salgados, o grau de autossuficiência é inferior a 47%.
O défice da balança comercial dos produtos agrícolas e agroalimentares
foi de 3,7 mil milhões de euros. As
importações de produtos da agricultura e agroalimentares atingiram, em 2013, um
valor de 7,2 mil milhões de euros, o que corresponde a um acréscimo de 5,6%
face ao ano anterior (+382 milhões de euros). As exportações aumentaram 11,0%
em relação a 2012, totalizando 3,5 mil milhões de euros (+343 milhões de
euros). Espanha está no centro destas transações.
O Saldo da balança
comercial dos produtos do sector florestal atingiu um excedente de 2,5 mil
milhões de euros em 2013 . Os maiores contributos vieram do “papel e cartão”
com um saldo de 742,6 milhões de euros, “cortiça” saldo de 700,4 milhões de
euros e “pastas de madeiras”125,4 milhões de euros. No entanto, a produção e exportação de
madeiras nobres é praticamente inexistente pese embora a importância da
indústria dos móveis e da viticultura nacionais.
O grau de
autossuficiência alimentar nacional situa-se nos 81%. Este deficit estrutural,
além de descapitalizar o país, coloca um problema específico de soberania, estabilidade
do mercado, coesão e segurança
nacionais.
Para além de alguns
projetos experimentais de natureza académica, não existe um programa nacional
para criar um modelo de sumidouro do carbono e para a entrada no mercado dos créditos
de carbono, com base na exploração sustentável da floresta, das pastagens e da
agricultura mediterrânicas e do norte atlântico.
As novas regras da
PAC_ Política Agrícola Comum não preveem uma linha de apoio dedicada aos
pequenos e médios agricultores, enquanto 44% da despesa pública total está
adstrita à competitividade e organização/concentração da produção, de que é
exemplo a majoração para aquisição de terrenos, acompanhada com o aumento do
valor mínimo de investimento dos jovens agricultores, que passa para os 40 mil
euros. Os apoios não foram ligados à produção, mantendo-se o princípio de
receber sem obrigação de produzir, que deixou de fora do anterior quadro
comunitário 80% dos agricultores portugueses.
Fixemos o quadro geral da questão agrária e camponesa
em Portugal
_ Desenvolvimento
da produção agrícola industrializada, sobretudo no Oeste-Ribatejo. Entre Douro
e Minho e Alentejo, seguida de crise e maior concentração do capital: expansão do sector florestal para produção de pasta
de papel (eucaliptos) e paletes (pinheiro), seguida de crise ( deslocalização da indústria de celulose
europeia, fogos florestais, nemátodo) ; expansão do sector leiteiro, seguido de
crise (dumping das Cadeias de
Distribuição Alimentar e fim das quotas); diminuição da produção vinhateira,
seguida de crise (falência das cooperativas e extinção da Casa do Douro,
concorrência internacional); aumento da produção de arroz, com os projetos de
irrigação (como no Baixo-Mondego), seguida de crise, baixa dos preços de venda
pelos carteis de distribuição, aumento dos custos de produção; expansão da
horto-fruticultura, que se internacionalizou com sucesso, mas perdeu
recentemente o mercado russo, fruto do boicote decretado pela UE; reconversão
industrial do olival, sobretudo a Sul, com a entrada de investidores
estrangeiros; aumento da produção de carne, não apenas de frango, com a
expansão da criação de bovinos e suínos em troca com os campos cerealíferos,
seguida de estagnação e retrocesso a Sul, fruto da retirada da terra da produção
em troca de indemnizações compensatórias e recessão da pastorícia tradicional,
do cultivo do centeio e do milho, sobretudo na Serra da Estrela, Beiras e
Trás-Os-Montes…
_ Cartelização da
distribuição. Concentração excessiva
do comércio e combinação de preços. Crescimento tentacular das cadeias de
distribuição internacionais e do seu sector de “produtos brancos”. Aumento da
especulação financeira sobre os produtos alimentares.
_ Destruição
progressiva da agricultura, silvicultura e pastorícia, camponesa e familiar, pelas leis da concorrência e a falta de dimensão e
produtividade das pequenas explorações (minifúndio), após a valorização inicial
de alguns produtos regionais, como foi o Queijo da Serra da Estrela, que já não
depende dos pequenos rebanhos e do pastoreio familiar.
Ermamento _ Insegurança, destruição do património florestal e
construído (a arquitetura vernácula da aldeias abandonadas, cuja perda
representa um valor inestimável), fecho das escolas, das extensões de saúde e
depois dos lares das aldeias. Redução dos bens civilizacionais básicos, da
iluminação pública ao racionamento da água das redes municipais, do aquecimento
nas escolas…
_ Urbanização e
destruição dos melhores solos, falta de água e degradação da sua
qualidade…desertificação _ Os solos
mais produtivos capazes de abastecer em especial com frescos o nosso país têm
sido destruídos pela crescimento urbano em cima dos melhores solos, pois as
cidades nasceram em locais com bons solos, bons acesso e água (Chaves, Braga,
Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa, Setúbal, Évora, Beja, Faro, etc.) e cresceram
em cima desse solos.
Este crescimento é
catastrófico e desmedido, >50% de crescimento urbano em solos de boa
qualidade de 1990 a 2000, o que equivale a uma cidade como Coimbra por ano de
2000 a 2010. Pior são as plataformas logísticas, as autoestradas e agora as
barragens do PNBEPH e as mini-hídricas que ao destruir as várzeas irão
inviabilizar a utilização agrícola das zonas afetadas.
Com a política
urbana irracional, com a opção pelas vias rodoviárias, pela política energética
das barragens, com o abate dos sobreiros e a destruição dos montados, está ser
posta em causa a capacidade de abastecimento agrícola em especial de frescos de
elevada qualidade e a tornar o nosso Sul e sudeste (até Castelo Branco), mais
vulneráveis ao avanço do processo de desertificação.
_ Concentração da
propriedade e do rendimento e penetração das multinacionais (vinho e azeite)
Se tomarmos apenas o
período de 1989 a 2009, a dimensão média da propriedade (a Superfície Agrícola
Útil média _SAU) quase duplicou passando de 6,7 hectares para cerca de 12
hectares; o número de explorações agrícolas diminui 46% na primeira década e na
segunda um quarto das explorações agrícolas (111 mil) desapareceu. Nesse
período, o número de explorações com menos de 1 hectare baixou em 42%, enquanto
as explorações com mais de 100 hectares aumentaram em 6%. A SAU abandonada
baixou para 127 691 ha. A área irrigada duplicou.
O número de
sociedades agrícolas e a sua área de exploração cresceram conjuntamente 5 053
para 6 776 e de 912 002 ha para 1 221
813 ha. Em paralelo o número de empresários individuais e a área na sua posse
baixaram drasticamente de 17 243 para um quarto 4 936 e de 1 161 604 ha
para metade 501 960 ha.
O número de jovens
agricultores, que nesta classe são os que têm menos de 35 anos também caiu
brutalmente de 17 023 para 6 845 e nas séries etárias seguintes, de menos de 45
anos, de 46 768 para 22 961, de menos de 55 anos, de 111 102 para 73 947 e de
mais de 65 anos, de 154 598 para 141 917. Elevou-se
claramente o nível de instrução, sobretudo dos portadores do ensino Secundário,
de 8 929 para 12 446 e de grau superior, de 10 392 para 13 088.
Todos estes
indicadores confirmam a concentração do capital, dos meios de produção e
comercialização, pelo qual emerge a primeira multinacional portuguesa do
sector, a Sogrape, o
melhor exemplo de concentração de capital por sucessivas aquisições, líder
mundial do vinho do Porto e um lugar destacado no comércio do Xerez, com um
volume de negócios consolidado de 200 milhões de euros, mais de 1.200 ha de
vinha, empregando acima de 1.000 trabalhadores, em Portugal, na Argentina e em
Espanha. Mas também a chegada novos capitais ao Douro, de França e dos EUA. Ou
ao Alentejo, de Espanha e Angola. A compra
de grandes herdades de produção de azeite, vinho e gado a Sul tem o seu
paradigma no Grupo Âncora, espanhol, que possui mais de 9.000 ha de olival com um investimento de 140 milhões. No
Alqueva, obra de dois mil milhões de euros públicos, a elevação dos preços da
terra condicionou a sua aquisição por grandes grupos nacionais e estrangeiros,
que aí praticam uma agricultura intensiva, assente na exploração da mão-de-obra
barata importada da europa de leste.
_Destruição dos
direitos laborais dos trabalhadores rurais e a sua negação ao novo proletariado
rural/emigrantes
A conquista dos direitos laborais básicos
neste sector, primeiro no Sul em plena revolução e no Norte e Centro já no
final da década, ultrapassou nestas duas regiões um atraso centenário, pois até
1978 não havia direito à jornada de 8 horas no Douro, nem negociação dos
salários das “rogas” antes das vindimas, nem pagamento de domingos, férias e
feriados e acesso à Segurança Social.
Foi a ação de novos sindicatos agrícolas do
Norte e Centro com o recurso a greves e manifestações fora do controle dos
partidos tradicionais, que conduziu ao seu reconhecimento legal pela Assembleia
da República.
Hoje a lei do contrato de trabalho agrícola
é letras morta e essa descriminação abate-se sobretudo sobre os trabalhadores
sazonais, particularmente os emigrantes.
A nossa visão dos problemas
A nova PAC, no plano da economia,
escamoteia a tendência para a desvalorização do capital-terra que é o resultado
mais extremo da ascensão do capital financeiro especulador sobre todas as
outras formas do capital.
No plano político, opõe os camponeses e
agricultores dos países do Norte aos países do Sul, dentro da Europa e a nível
internacional.
No plano social, atira uns contra os
outros, produtores agrícolas e ambientalistas, ativos contra reformados.
Conclusão política fundamental: O crescente
monopólio do grande comércio dos produtos alimentares esmaga a economia de
produtores agrícolas e de residentes nas áreas rurais, bem como impede a
descida de preços dos bens alimentares que são objeto de mercados
especulativos.
A criação de uma nova ordem internacional
passa pela reforma da política da Organização Mundial do Comércio, onde fique
consignada a proibição das práticas de especulação financeira com os bens
alimentares, a regulação e garantia dos preços à produção, a harmonização de
preços entre os países do Norte e do Sul e o imperativo da negociação
institucional entre o sector agro silvo pastoril e os grupos de distribuição e
transformação.
Ou até a saída da agricultura da esfera
desta organização e a criação de uma estrutura no âmbito das Nações Unidas que
reconheça ao sector a sua especificidade e imprescindibilidade no quadro
dominante da Sociedade Urbana.
A reversão do
abandono e ermamento do interior do país e do seu mundo rural, questão
económica, ambiental, de segurança e soberania, de suma importância, exige a
opção de um programa nacional,
assumido pelo governo da República, com dois pilares fundamentais:
O Renascimento Agrícola, Silvícola e Pastoril, com
base na transição ecológica da economia e do mundo rural
Um novo Contrato Social de Progresso para o Mundo
Rural
Nesse projeto
político se insere um Programa de Medidas
Urgentes como:
_ A reposição das
estruturas de saúde e educação públicas _ com base na parceria
pública-misericórdias ( e instituições afins), cooperativa e empresarial, dos
tribunais e outras estruturas da
administração local e regional.
_ A reconstrução das
estruturas do estado de investigação agrária e de investigação regional
aplicada, extensão rural e apoio técnico, desenvolvendo parcerias com os
empresários, cooperativas e instituições afins…concedendo prioridade à
preservação da diversidade do património genético agrícola, à criação de
projetos avançados de produção integrada e ecológica e à criação de modelos,
economicamente quantificáveis, de sumidouro do carbono através da floresta
mediterrânica, a agricultura tradicional-multifuncional e a pastorícia.
_ Legislação anti
dumping e contra a cartelização, acompanhada de ação fiscalizadora e repressiva
e uma política de regulamentação dos preços entre a produção e a
comercialização. Institucionalização nacional da negociação comercial entre as
associações de produtores agrícolas e os Grupos de Distribuição e de transformação
industrial dos produtos alimentares.
_ Nova política de
defesa civil, no quadro de uma nova definição da estratégia de defesa nacional.
A Defesa Civil como primeira prioridade no campo da Defesa, envolvendo as
forças militarizadas. De modo a criar no mundo rural uma quadrícula de
segurança face ao crime organizado, às ameaças terrorista, aos cataclismos
naturais e particularmente aos incêndios florestais.
_ As autarquias
devem ser chamadas a participar no desenvolvimento rural com uma política ao seu
serviço e da transição ecológica da economia rural.
_ As linhas para a reforma democrática e ecológica da
PAC
1. O 1º pilar (ajudas diretas) deve
concentrar-se na obtenção do mínimo de suporte financeiro aos rendimentos dos
agricultores de modo que o 2º pilar, o chamado Desenvolvimento Rural, possa
suportar a atividade agrária como um fornecedor de Bens e Serviços Públicos nas
suas funções ambientais e sociais (rurais).
2. A PAC deve ser um instrumento que
maximize a produção, que favoreça o emprego e a fixação da população no mundo
rural e nos campos.
3. A PAC precisa ter em conta as
especificidades nacionais e regionais,
4. A PAC deve ter em atenção as zonas de
produtividade marginal, o pagamento dos Serviços e Bens que não são cobertos
pelo Mercado.
5. A PAC deve reconhecer a necessidade do
reforço das questões ambientais e paisagísticas, pelo suporte à gestão da
“terra”, incluindo as ações relativas à Rede Natura 2000.
6. A PAC deve ter como objetivo a melhoria
a qualidade de vida nas áreas rurais promovendo a diversidade das atividades
económicas e as mais-valias resultantes da integração dessas atividades
económicas, sobretudo dos binómios:
_ conservação e valorização da paisagem
cultural (humanizada)/turismo ambiental
_ sustentabilidade do mosaico
agro-silvo-pastoril/melhoramento dos solos-recarga dos aquíferos-energias
renováveis-sumidouro do carbono
_ higiene e segurança na
produção/alimentação funcional (saudável)
_multifuncionalidade do espaço
rural/conservação e valorização dos patrimónios material e imaterial da bio e
geodiversidade.
7. A
PAC necessita promover a competitividade do sector agrícola, no quadro da
transição ecológica da sua economia e do fomento do associativismo e da
cooperação, o que nos remete,
primeiro_
para o apoio específico ao desenvolvimento do trabalho científico de
investigação aplicada,
segundo_ para o desenvolvimento integrado do
turismo de natureza, do turismo cultural, do turismo em espaço rural e do
turismo de saúde (em síntese, turismo ambiental)
terceiro_ para o desenvolvimento de novas
formas de associativismo na produção, no crédito e na comercialização de forma
a criar economia de escala e
quarto_ para a prevalência das novas éticas
ambientais na relação entre o Homem a Terra e a sua geodiversidade e
biodiversidade.
_ Programa político desenvolvido
I. Medidas de emergência fiscal e de
crédito para salvar as empresas, cooperativas, e instituições de referência ( como a Coudelaria Nacional), tal como as famílias das áreas rurais vítimas
de insolvência fortuita. Restituição da Casa do Douro aos durienses,
cooperativas e produtores.
II. Legislação anti dumping e contra a
cartelização, acompanhada de ação fiscalizadora e repressiva e uma política de
regulamentação dos preços entre a produção e a comercialização.
Institucionalização nacional da negociação comercial entre as associações de
produtores agrícolas e os Grupos de Distribuição e de transformação industrial
dos produtos alimentares.
III. Nova política de defesa civil, nova
definição da estratégia de defesa nacional. A Defesa Civil como primeira
prioridade no campo da Defesa, envolvendo as forças militarizadas. De modo a
criar no mundo rural uma quadrícula de segurança face ao crime organizado, às
ameaças terrorista, aos cataclismos naturais e particularmente os incêndios
florestais.
IV. Reconstrução das estruturas do estado de
investigação agrária e de investigação regional aplicada, extensão rural e
apoio técnico, desenvolvendo parcerias com os empresários, cooperativas e
instituições afins…concedendo prioridade à
preservação da diversidade do património genético agrícola, à criação de
projetos avançados de produção integrada e ecológica e à criação de modelos, economicamente
quantificáveis, de sumidouro do carbono
através da floresta mediterrânica, a agricultura tradicional-multifuncional e
a pastorícia.
V. Renovação e modernização dos mercados
locais, criação de redes de frio, armazenamento e distribuição, sustentadas
pela cooperação intermunicipal com as estruturas políticas de coordenação
regional e o governo. E orientadas para o abastecimento em bloco das grandes empresas
de distribuição, fornecimento dos mercados locais e regionais e para a procura
de mercados externos para exportação.
VI. Reconversão da Indústria da Construção Civil
para a reabilitação do património arquitetónico ( em Portugal a construção
civil representa 5,2% PIB e 10,7% do
emprego. Mas nos concelhos rurais esta atividade é com frequência a principal atividade
económica e fonte do emprego privados. No modelo atual de negócio, 90% da atividade são novas construções).
VII. Mudança do paradigma do jovem agricultor
( de idade até 45 anos), para o paradigma do novo agricultor, sem idade,
facilitando o acesso à terra e às atividades agro-silvo-pastoris dos
desempregados. Generalização do Banco de Terra a todas as zonas do país, sem
zonas de exclusão, como é o caso do Alqueva.
VIII. Integrar o Turismo Cultural e o Turismo de
Natureza (Turismo Ambiental), Turismo em Espaço Rural e Turismo de Saúde, criando
um novo paradigma de turismo baseado na cooperação intermunicipal e numa escala
de planeamento regional.
IX. Expansão e Diversificação das Energias
Renováveis, eólicas e fotovoltaica, por iniciativa privada, cooperativa e
autárquica, mas preservando os valores estéticos da paisagem e a sua
biodiversidade.
X. Reforma descentralizada do sistema de
ensino e formação para o desenvolvimento rural e local sustentáveis, racionalização em rede das instituições de
ensino superior, politécnico e profissional, nele integrando a recuperação das
Técnicas e Saberes Tradicionais e a utilização das Novas Tecnologias de Banda
Larga.
XI. Consolidação do sistema de saúde pública
regional _desenvolvimento da rede de telemedicina inter-regional e local e do
sistema de segurança social e apoio ao envelhecimento, com base na parceria
pública-misericórdias ( e instituições afins)-cooperativa e empresarial.
XII. Publicação de uma nova Lei do Contrato de
Trabalho Agrícola, que torne obrigatório o registo legal do contrato de
trabalho agrícola nas empresas do sector, equipare e reconheça os direitos
laborais dos assalariados rurais e seja extensiva aos emigrantes.
XIII. Atualização do cadastro agrícola e
florestal e legalização dos direitos de propriedade, a cargo da administração
pública e com o recurso à contratação de jovens advogados desempregados, de
modo a criar condições jurídicas para desenvolvimento de projetos empresariais,
cooperativos, associativos e familiares com dimensão económica competitiva e
sustentável.
XIV. Defesa intransigente dos direitos dos
produtores de leite e do estatuto de benefício no Douro, restituindo aos seus
viticultores a Casa do Douro com o poder institucional de controlo sobre o
cadastro e o benefício com aguardente vínica.
XV. Renegociação das parcerias
público-privadas relativas às autoestradas e SCUTS que atravessam o mundo
rural, de forma a redemocratizar o seu acesso pelas empresas, residentes e
viajantes.
XVI. Criação de uma rede de aeroportos
regionais de proximidade para apoio ao turismo, à circulação de quadros e
técnicos e à exportação de produtos de maior valor acrescentado.
©AdSQueirós
Queirós, António dos Santos, is Researcher of Environmental Philosophy and Ethics, in Lisbon University Philosophy Center, visiting the Universities of Salamanca and Sorbonne
It’s member of Way Ching Research Center the University of Hong Kong
It is also research of Cultural Tourism, Tourism of Nature and Sustainable Development in the University of Aveiro, Portugal.
His research interests include Ethics, higher education, international heritage and environmental projects
Association of Museum and Science Centers of Portugal_ MC2P (ONG) President
Secretary General of CCDPCh_ Chamber of Portugal-China Cooperation and Development
葡萄牙-中国合作发展 协会
Adviser of Forum dos Serviços, Confederation of trade and services of Portugal (CCP)
http://philoetichal.blogspot.pt/
Análise profunda, lúcida e completa sobre a tragédia do mundo rural Português. Mas sou menos otimista sobre um passado que originou o minifúndio parcelizado (média de 7 parcelas por propriedade) consequência de um mundo rural pouco fértil, montanhoso onde se refugiou uma população abandonada por todos os desastrozos poderes ao longo da história. Que é perfeitamente continuada atualmente para mal dos nossos pecados!...
ResponderEliminarEfectivamente todas as medidas apontadas deveriam ser seguidas, para desenvolvimento das "gentes" das áreas abandonadas e esquecidas, pelos dirigentes situados nas grandes metrópoles.
ResponderEliminarPara o território que se indica, ainda parece uma utopia, já que não haverá força para substituir o pensamento dos investidos pelo destino, que o dirigem há mais de 40 anos, sem se vislumbrar qualquer vento de mudança.
As minorias militantes, conseguem produzir acções, que resultam no oposto, para as quais foram criadas; depois de desenvolvidas, contrárias à ética e filosofia, de vida, desse Povo, de que dizem emanar, mas que afinal não representam e contrariam.
Sim, o Mundo está às Avessas.
Até quando?