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UMA REFLEXÃO SOBRE O TEMPO QUE ESTAMOS A VIVER

  Por Galopim de Carvalho  Professor catedrático jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Geologia e Sedimentologia. Foi...

terça-feira, 9 de novembro de 2021

HÁ VELHOS E VELHOS

 

Por Galopim de Carvalho 

Professor catedrático jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Geologia e Sedimentologia. Foi diretor do Museu Nacional de História Natural


Há os que já o são antes do tempo. As suas almas perderam a frescura e a vitalidade que os seus corpos tiveram. São muitos os que aspiraram pela reforma de um emprego de que desejaram libertar-se e vemo-los, inúteis, ociosos ou jogando às cartas nos jardins, dependentes das respectivas mulheres que, em casa, sem férias nem fins-de-semana, lhes tratam de roupa e lhes põem a comida na mesa.
Pelo contrário, há os velhos cuja alma não envelhece. Muitos deles mantêm, a um tempo, a ingenuidade e a transparência da criança, a insatisfação, ousadia e aventureirismo da adolescência, a energia e positivismo da idade madura e a ponderação, tolerância, paciência e resignação da velhice. Não perderam o sentido de humor e o amor à vida. O corpo e, em especial, as pernas é que não ajudam.
Estão sempre em férias - dizem quem os não conhecem – mas, na realidade, nunca fazem férias, não gozam dias feriados, nem fins-de-semana. Como todos os velhos, têm dores no corpo e, muitas vezes, na alma, que esquecem ou aliviam, trabalhando. Trabalham no que lhes dá prazer e ao limite das suas capacidades físicas. E, se têm consciência de que o produto do seu trabalho continua a ter utilidade, isso encoraja-os a continuar.
Um outro grupo de velhos é o daqueles que substituem os seus filhos, cuidando dos que estes trouxeram ao mundo. Nos nossos dias e numa sociedade em que homens e mulheres exercem as suas profissões fora de casa, estes velhos, pais pela segunda vez, ocupados a tempo inteiro na criação dos netos, têm um papel social da maior importância.
Seria injusto se esquecesse aqui todos aqueles, e são muitos, os que, por dificuldades dos tempos que vivemos, se veem na obrigação de procurar, nas forças que lhes restam, o seu sustento e, tantas vezes, o dos filhos e dos netos.

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