Professor Catedrático, desde 1991, na Universidade de Coimbra onde ingressou como docente em 1976. Está aposentado desde Julho de 2007. Membro do Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património
É vulgar afirmar-se que o Cristianismo se difundiu
mercê da estrutura romana, facilitadora do transporte de pessoas e de ideias,
mormente por via de
uma língua única (o Latim, no Ocidente). A natural propensão religiosa dos
Romanos, aliada à liberdade de culto possibilitada pelo Édito de Milão (313),
fez o resto.
Desde,
o mais tardar, o século VI que se encontram, em Conímbriga, testemunhos
epigráficos do culto cristão, de
que a basílica aí identificada constitui, por seu turno, o
documento maior.
Martúria,
serva de Deus, viveu 33 anos, descansou em paz a 4 de Novembro de 522 (ou 532);
Sereniano, servo de Deus, viveu quatro anos, descansou em paz a 24 de Novembro
de 541
(Fig. 1 – Foto de José Pessoa(c)ADF/DGPC – MMC_MN_00200)
– dois exemplos de epitáfios cristãos. Nome único, porque bem reconhecidos
entre a pequena comunidade; «servo de Deus», como louvor e sinal de pertença;
menção do dia da morte, começo da verdadeira vida… «em paz»!
Nunca será de mais
sublinhar essas diferenças evidentes: interessa quanto se viveu, sim, mas
importa sobretudo assinalar o dia em que terminou o peregrinar terreno e se
entrou no reino da paz! Pode, por outro lado, o defunto ter pertencido a famílias
ilustres, de onomástica reconhecida; contudo, o que se grava na lousa sepulcral
é o nome que recebeu no baptismo cristão, nome único… As funções que exerceu
durante a sua existência acabam, finalmente, por não interessar: o mais
importante é que, nessas funções, ele foi… servo de Deus!
Dentre
as inscrições cristãs de Conímbriga, para além do cabo de patena de bronze gravado
com o nome Emanuel, uma outra nos deve merecer particular realce: o molde
circular de bronze, com o diâmetro de 5,5 cm , em que se lê Vivas in aeternum, «Que vivas eternamente!»
(Fig.
2 – Foto de Humberto Rendeiro(c)MMC-MN/DGPC - MMC_MN_01274).
Acompanha a frase uma cruz e o anagrama de Cristo com o alfa e o ómega (Cristo princípio e fim…). Servia para a confecção das hóstias. E mesmo que o espaço sagrado – a basílica cristã – não tivesse sido identificado, este singelo sinete era o bastante para documentar aí uma intensa vida religiosa nos séculos VI e VII.
José
d’Encarnação
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