Destaque

UMA REFLEXÃO SOBRE O TEMPO QUE ESTAMOS A VIVER

  Por Galopim de Carvalho  Professor catedrático jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Geologia e Sedimentologia. Foi...

domingo, 19 de setembro de 2021

Deuses e religião na cidade de Conimbriga I



Professor Catedrático, desde 1991, na Universidade de Coimbra onde ingressou como docente em 1976. Está aposentado desde Julho de 2007. Membro do Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património

            Caso possa interessar aos leitores deste blogue, nomeadamente por ele estar intrinsecamente ligado à cidade romana de Conimbriga, pensei que poderia dedicar umas cinco leves crónicas ao que nesse âmbito se conhece no que concerne às manifestações religiosas de que, até ao momento, tivemos conhecimento.


Árula dedicada a Flávia Conímbriga e aos seus Lares.

            Além dos livros antigos, que contam da mitologia romana, para sabermos que divindades se veneraram em determinado local e eventuais cultos aí praticados recorre-se à Arqueologia (vestígios materiais de templos ou lugares sagrados) e à Epigrafia (inscrições em cumprimento de promessas).

            Neste Ocidente romano, as práticas religiosas não seriam diferentes das do resto do Império, entendendo-se por ‘religião’ esse conjunto de atitudes do Homem em relação ao Divino. Já quanto às divindades, particularidades haverá a salientar.

            Sendo a religião um dos domínios que mais directamente se prende com a vida, aspectos políticos, sociais, culturais e, até, económicos se congregam no dia-a-dia. Assim, não causará admiração reconhecer que o Romano depressa se apercebeu que o respeito pelas crenças autóctones lhe era fundamental para mais facilmente manter supremacia: cidadãos romanos prestam culto a divindade indígenas e cedo os indígenas veneraram divindades do panteão oficial romano.

            Nos mosaicos de Conimbriga e da villa do Rabaçal as representações dão conta dessa adopção, até porque tal modo de revestir os pavimentos não era, de todo, familiar aos indígenas. Os poucos restos escultóricos que subsistiram mostram também modelos iconográficos importados. Já, porém, os monumentos epigráficos nos permitem penetrar um pouco mais fundamente na religiosidade vivida.

            E encontramos, de facto, essa perfeita convivência entre os dois panteões em presença, ainda que, por estarmos num ambiente predominantemente urbano, se nos afigure que depressa uma aculturação religiosa se processou.

            Homenageou-se Júpiter Óptimo Máximo, Apolo, Fortuna, Mitra, Minerva, Baco, quiçá Marte também… Mas parece que a preferência terá ido para as divindades tutelares: o Génio de Conimbriga; os Lares dessa mesma cidade e os das Águas; os de um grupo étnico que só por uma placa se conhecem: os Lubancos dos Dovilónicos. E esquecidas não foram as virtudes imperiais: a Pietas e uns estranhos Remetes…

José d´Encarnação



Sem comentários:

Enviar um comentário