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UMA REFLEXÃO SOBRE O TEMPO QUE ESTAMOS A VIVER

  Por Galopim de Carvalho  Professor catedrático jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Geologia e Sedimentologia. Foi...

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Os Problemas do Mondego Exigem A Todos Mais Informação e Reclamação





António Veloso, ex-administrador do Programa do Mondego

A Quercos está contra a deposição das areias resultantes do desassoreamento da albufeira do Açude no leito do Mondego, a jusante, “com grandes impactos ambientais e sociais que não foram acautelados”. Também segundo o Diário, a “Câmara reitera a necessidade de desassorear o rio Mondego para evitar cheias”. Penso que o que a Quercus terá é questionado não se terem interrompido ou abrandado as operações de desassoreamento no período de migração da lampreia, do sável e da enguia. Também questionei o mesmo, sem resposta da Câmara de Coimbra ou da Agência Portuguesa do Ambiente, embora admita que esta fauna sendo atraída pela corrente contrária, ela fuja das sucções das dragas, sendo pequeno o dano causado pelas dragagens. Mas é de louvar o facto da Câmara l de Coimbra ter arcado com este desassoreamento tal como a deposição de eficaz camada de asfalto na estrada que margina o Choupal e o Centro Hípico.
O problema do leito do Mondego é a grave erosão que se está a verificar no leito a partir do Choupal, com o aparecimento de grandes fundões que ameaçam as fundações dos diques do leito central, diques que depois do sistema de barragens da Aguieira, são o elemento mais importante da “Defesa Contra as Cheias”. O grave desastre que ocorreu em Janeiro de 2001 neste vale, com tantos prejuízos e ameaçando vidas do Casal Novo do Rio, deveu-se à forte erosão do coroamento do dique da margem esquerda, provocado pela drenagem do troço da Autoestrada A1 que atravessa o Mondego a jusante do Choupal. O dique muito afetado não resistiu à pressão da água das cheias, com o que estabeleceu uma gravíssima anarquia hidráulica no vale que provocou mais 15 roturas de diques.
No Simpósio Mondego de 22 de Junho último o Prof. Eng. Matias Ramos, um dos projetista das obras, informou que se verificam graves erosões no leito central do rio a jusante de Coimbra. A atual deposição da areia em aterros no leito do rio a jusante, a espalhar, virá apenas provisoriamente diminuir a gravidade deste problema! É urgente um estudo que indique qual será solução deste problema.
Pela comunicação do Prof. Eng. Alfeu Sá Marques neste simpósio, segundo as conclusões do estudo encomendado pelo Governo, a existência de profundidade adequada na albufeira do Açude não é decisiva na prevenção das cheias, mas sim a forma como se gere o sistema de barragens da Aguieira. Ora estas barragens foram construídas como principal equipamento regularizador das cheias, secundarizadas pelos diques marginais do rio e dos leitos periféricos no Baixo Mondego, bem como para abastecer de água as zonas de jusante, incluindo a rega dos campos. Ora, de acordo com aquele estudo, a EDP, que gere as barragens, nem sempre respeita este objetivo, preferindo a produção de eletricidade. Este é um assunto com que todos os políticos do Baixo Mondego se deveriam preocupar.
A Quercus também deve reparar nas florestas de acácias e de ailanthus altissima que crescem nos diques do Mondego, condenando-os a prazo, bem como obstarem ao funcionamento dos sifões de descarga controlada de cheias no campo em tempo de crise, para evitar que os diques sejam ultrapassados. E os silvados que bordejam o canal a jusante do Choupal? Também deve denunciar a série de redes de apanha de meixão que, ainda em Junho, se viam a olho-nú da Estação Elevatória do Foja para jusante. Pergunto porque é que só se apanham redes?

Publicado pelo Diário de Coimbra em 05.08.2018

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