António
Veloso, ex-administrador do Programa do Mondego
A Quercos está contra a
deposição das areias resultantes do desassoreamento da albufeira do Açude no
leito do Mondego, a jusante, “com grandes impactos ambientais e sociais que não
foram acautelados”. Também segundo o Diário, a “Câmara reitera a necessidade de
desassorear o rio Mondego para evitar cheias”. Penso que o que a Quercus terá é
questionado não se terem interrompido ou abrandado as operações de
desassoreamento no período de migração da lampreia, do sável e da enguia. Também
questionei o mesmo, sem resposta da Câmara de Coimbra ou da Agência Portuguesa
do Ambiente, embora admita que esta fauna sendo atraída pela corrente contrária,
ela fuja das sucções das dragas, sendo pequeno o dano causado pelas dragagens.
Mas é de louvar o facto da Câmara l de Coimbra ter arcado com este
desassoreamento tal como a deposição de eficaz camada de asfalto na estrada que
margina o Choupal e o Centro Hípico.
O problema do leito do Mondego
é a grave erosão que se está a verificar no leito a partir do Choupal, com o
aparecimento de grandes fundões que ameaçam as fundações dos diques do leito
central, diques que depois do sistema de barragens da Aguieira, são o elemento
mais importante da “Defesa Contra as Cheias”. O grave desastre que ocorreu em
Janeiro de 2001 neste vale, com tantos prejuízos e ameaçando vidas do Casal
Novo do Rio, deveu-se à forte erosão do coroamento do dique da margem esquerda,
provocado pela drenagem do troço da Autoestrada A1 que atravessa o Mondego a
jusante do Choupal. O dique muito afetado não resistiu à pressão da água das
cheias, com o que estabeleceu uma gravíssima anarquia hidráulica no vale que
provocou mais 15 roturas de diques.
No Simpósio Mondego de 22 de
Junho último o Prof. Eng. Matias Ramos, um dos projetista das obras, informou que
se verificam graves erosões no leito central do rio a jusante de Coimbra. A
atual deposição da areia em aterros no leito do rio a jusante, a espalhar, virá
apenas provisoriamente diminuir a gravidade deste problema! É urgente um estudo
que indique qual será solução deste problema.
Pela comunicação do Prof. Eng.
Alfeu Sá Marques neste simpósio, segundo as conclusões do estudo encomendado
pelo Governo, a existência de profundidade adequada na albufeira do Açude não é
decisiva na prevenção das cheias, mas sim a forma como se gere o sistema de
barragens da Aguieira. Ora estas barragens foram construídas como principal
equipamento regularizador das cheias, secundarizadas pelos diques marginais do
rio e dos leitos periféricos no Baixo Mondego, bem como para abastecer de água
as zonas de jusante, incluindo a rega dos campos. Ora, de acordo com aquele
estudo, a EDP, que gere as barragens, nem sempre respeita este objetivo, preferindo
a produção de eletricidade. Este é um assunto com que todos os políticos do
Baixo Mondego se deveriam preocupar.
A Quercus também deve reparar nas
florestas de acácias e de ailanthus
altissima que crescem nos diques do Mondego, condenando-os a prazo, bem
como obstarem ao funcionamento dos sifões de descarga controlada de cheias no
campo em tempo de crise, para evitar que os diques sejam ultrapassados. E os
silvados que bordejam o canal a jusante do Choupal? Também deve denunciar a
série de redes de apanha de meixão que, ainda em Junho, se viam a olho-nú da
Estação Elevatória do Foja para jusante. Pergunto porque é que só se apanham
redes?
Publicado pelo Diário de
Coimbra em 05.08.2018
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