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UMA REFLEXÃO SOBRE O TEMPO QUE ESTAMOS A VIVER

  Por Galopim de Carvalho  Professor catedrático jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Geologia e Sedimentologia. Foi...

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Manifestações do culto ao Imperador

 


Professor Catedrático, desde 1991, na Universidade de Coimbra onde ingressou como docente em 1976. Está aposentado desde Julho de 2007. Membro do Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património

Sempre a política se serviu da religião como esteio fundamental. Logo o imperador Augusto, pontífice máximo, não proibiu que se organizasse culto em sua honra; que o templo principal dos foros, ainda que dedicado oficialmente à tríade capitolina ou a Júpiter Óptimo Máximo, pudesse ter lá a sua estátua em pose de Apolo… E como tal tem sido interpretado, pois, o templo do fórum conimbricense.

               Os flâmines e as flamínicas, eleitos dentre os cidadãos influentes; o colégio de sêxviros escolhidos no seio dos libertos endinheirados – constituíam o escol encarregado de não deixar esmorecer o númen divino imperial!

            Homenageou-se em Conimbriga a Piedade Augusta, uma das virtudes maiores de génio imperial, a honrar o seu compromissos de favorecer os cidadãos. Os Rémetes Augustos – estranha designação de que ainda se não encontrou paralelo – poderão ter sido divindades das águas, por a placa ter sido encontrada num local que Vergílio Correia identificou como balneário público, o que não deixa também de ser significativo, porque dá a impressão de, num lugar de grande afluência de gente, se querer assinalar a devoção a Augusto (o imperador), vestindo-o, todavia, de uma roupagem identitária…

E se é apenas verosímil a existência de Lúcio Papírio, flâmine provincial que homenageou o divino Augusto, o pequeno pedestal erigido em Mérida em honra de Vespasiano por intervenção doutro flâmine provincial, Marco Júnio Latrão, conimbricense, é prova de que a cidade não descurou as suas obrigações perante o poder central.

            Em primeiro lugar, sublinhe-se o facto de, no quadro das cidades lusitanas, um notável de Conímbriga ter sido, nesse mandato dos anos 76/77, ter sido eleito flâmine provincial, dentre, seguramente, diversos candidatos. Tal dignidade significava prestígio para si e para a sua cidade e demonstrava, simultaneamente, cabal reconhecimento pelos seus pares de uma ligação profunda – política, social e económica – a Mérida, a capital provincial e, por seu intermédio, a Roma.

            Há, contudo, um outro pormenor não menos relevante: é que não se trata de uma homenagem qualquer! É a província da Lusitânia que oferece – além do pedestal – cinco libras de ouro (1635 gramas!), para revestir um busto de bronze ou fabricar uma palma. Assinalam-se, no entanto, os seus dois representantes máximos: o governador, Gaio Arrúncio Catélio Célere, e o flâmine provincial, Marco Júnio Latrão. A sintonia, de que atrás se falava, entre o poder político e o poder religioso!...

                                                                       José d’Encarnação


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